Com a mesma intensidade com que despertamos com a luz do dia os sentimentos amorosos despertam com a escuridão lunar.
Despertamos com raios solares. É bem verdade que existem algumas exceções, como os bêbados e os poetas. Viram pra lá. Rolam pra cá. Enterram a cabeça no travesseiro. Mas acordam!
Ao longo do dia, involuntariamente repetimos, para nós mesmos, nossa última vitória:
- Eu a esqueci! Eu a esqueci! Eu a esqueci... AH eu a esqueci...
- Agora sim ela vai me procurar! Mulher é assim: Gosta é de ser deixada de lado!
- Há, mas quando ela me procurar. Vou dizer-lhe tudo o que ta engasgado aqui: Vou dizer que a esqueci. Que é tarde de mais. Que não significou nada para mim. Que vá embora e me esqueça. Que prefiro uma qualquer do que ela.
- E quando ela começar a chorar, e me pedir perdão. Quando disser que sem mim não vive. Que sou o amor da sua vida. Que prefere morrer a viver sem mim. Viro a cara e vou-me embora.
- Contarei pros meus amigos tudo de uma maneira hilariante. Escutarei minha secretária eletrônica na frente de todos para que escutem sua voz trêmula e seu choro. Configurarei meu e--mail para enviar suas mensagens diretamente para a lixeira do computador, e darei um jeito para que ela saiba disso.
Mas os sentimentos amorosos despertam com a noite. E intensificam-se ao adentrar-lhe. E aquela repetição longa e contínua, que nos lembrava a cada instante que havíamos vencido a batalha contra o exercito do coração, repentinamente desaparece. O sutil silêncio da noite faz nos sentirmos sozinhos e inseguros.
Tentamos dormi. Não conseguimos.
As notícias que chegaram até nós, sobre ela, de maneira não identificável, ao longo do dia, começam a ser analisadas.
Relutamos.
Uma música. Um filme. E pronto. Mas uma vez escravizados estamos. Refletimos e pensamos se ela também está pensando na gente naquele momento. Refletimos mais um pouco. Passamos um bom tempo refletindo. Lembramos dos momentos felizes anteriores e porvir. Pensamos até mesmo na concorrência.
- Mas ele não é de nada! Afirmamos a nós mesmos.
- Contudo é bom não facilitar! Afirmamos subconscientemente.
Decidimos ligar. Ensaiamos a fala. Tomamos coragem. E notamos que já são duas horas da madrugada.
- Amanhã eu ligarei!
Deitamos. Adormecemos pensando nela e no que iremos falar. Simulamos até a conversa que teremos, imaginando sempre que as respostas serão as melhores possíveis.
- Oi.
- Olá.
- Como Vai?
- To morrendo de saudades! Volta pra...
E despertamos no dia seguinte cheios de si, repetindo involuntariamente, para nós mesmos, nossa última vitória...

Desde 12.07.2010