sábado, junho 27, 2009

SINAL FECHADO

Há um fato que de tão corriqueiro nas ruas de nossa cidade já passa despercebido por nossos olhos. Trata-se de mendigos esmolando nos sinais de trânsito da nossa tão famigerada terra do sol. O pior é que quase sempre estão acompanhados por crianças, que aparentam ser sua própria prole. Tudo isso com intuito único de utilizar tais juvenis para causar comiseração a quem os observa.
A compaixão gerada pela imagem das pobres crianças, sujas e descalçadas, nos faz sentir os males alheios como próprios, e, ato contínuo, puxamos uma moeda para fora do veículo, derramando-a naquelas maltratadas mãos, sem perceber que, não obstante o sentimento de piedade, praticamos um mal incomensurável, cessando qualquer perspectiva de desenvolvimento daqueles seres infantis, os quais crescerão com um único aprendizado: humilhar-se diariamente para terem o que comer, ou praticar crimes e ter uma vida abastada, mas indigna em ambos os casos.
O problema é de ordem social e, tão grave, que a extraordinária maioria da população desconhece que o episódio configura crime de “abandono intelectual”, com pena devidamente cominada pelo Código Penal vigente (artigo 247, IV), tendo origem, como ocorre com grande parte das questões públicas, na falta de educação e informação, algo que, de certo, faltará, também, a essa juventude vitimada. A história, assim, fatalmente repetir-se-á.
Denunciar os pais ou responsáveis civis como culpados, contudo, é tarefa das mais fáceis. O verdadeiro responsável é, na verdade, e pode parecer retórico, o Poder Público, o qual se mostra em mais um capítulo de novela da omissão, como já se tornou costume. E, dessa forma, nem se vê escolas para abrigar os menores, nem sequer condições para que a família possa ter o seu sustento sem a necessidade de apelar para tais subterfúgios.
Por fim, resta-nos apenas fazer um apelo àqueles que, de alguma forma, podem contribuir para minimizar o problema (sejam familiares, autoridades, simples cidadãos etc.). Lugar de criança é na escola!

Foto: arquivo pessoal. Senado Federal -  Brasília-DF - Brasil.

Artigo publicado em 27.06.09 no jornal O Povo: http://www.opovo.com.br/opovo/jornaldoleitor/888253.html

segunda-feira, junho 08, 2009

VINTE E POUCOS ANOS

O ônus sarcástico que acompanha o número vinte e quatro já se enraizou de tal modo em nossa cultura que pode ser considerado uma espécie de dogma (um preceito máximo adotado por certa coletividade de pessoas, a qual é por ela obedecida e seguida sem que haja maiores contestações acerca de seu surgimento, real validade ou razão de existir).

Reza a lenda que a vinculação feita entre o número e sua mais usual significância surge a partir do jogo do bicho, onde vinte e quatro corresponde ao animal veado.


Pensando que irei comemorar meus vinte e quatro anos dentro em breve, e já ciente das "brincadeiras" que advirão em virtude desse acontecimento, passei a divagar em busca de alguma saída, ou no mínimo uma resposta que me colocasse em situação menos desconfortante. Como se diz na gíria não quero “ficar por baixo”.


Cheguei então à seguinte conclusão: quando nossos pais, empolgados ainda pela nossa chegada, comemoram nosso primeiro ano de vida, na verdade, comemoram a completude dele. Melhor explicando, já vivemos o ano um e, a partir daquele dia entramos no segundo dozena de meses da nossa existência.


No meu específico caso, nascido em 11 de junho de 1985, vivi, até o mesmo dia e mês do ano seguinte as minhas primeiras estações. Assim, em 11.06.1986 já inicio o meu segundo ano de idade, o qual será comemorado em 11.06.1987(quando já estarei vivendo o primeiro dia do terceiro).


É errado, dessa forma, dizer que “irei fazer vinte e quatro anos”!


Ora, utilizando do mesmo raciocínio pode-se concluir que vivo agora exatamente o meu vigésimo quarto ano.


Dessa forma, em 11.06.2009 já adentrarei em um quarto de século de existência.


Dessa feita, caros amigos, antes de proferirem qualquer comentário irônico acerca de minha nova idade leiam esse texto, e observem que já não mais haverá fundamento para tal.


Já para aqueles que comemoram seus vinte e três anos (na verdade entram em seu vigésimo quarto), resta dizer que me utilizarei do mesmo expediente para citar aquelas velhas piadas relacionadas com o, por que não dizer, cabalístico número em comento, quando estivermos, provavelmente, em uma mesa de bar.